ÉZIO, O SUPER-HERÓI TRICOLOR
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Publicado em 06/02/2021

Gols inesquecíveis, fama de carrasco e carisma: entenda como um atacante que chegou sem tanta badalação ganhou status de ídolo eterno do Fluminense

 

Dia 3 de fevereiro de 1991. Em uma tarde ensolarada nas Laranjeiras, estreava pelo Fluminense um atacante que anos depois ganharia status de super-herói com a camisa tricolor: Ézio, ou melhor, Super Ézio.

Aquele jogador que chegou ao clube de forma discreta logo virou ídolo, carrasco do arquirrival Flamengo e deixou no Tricolor um legado que permanece mesmo anos depois de sua morte, ocorrida em 2011, aos 45 anos, causada por um câncer. Em 9 capítulos, veja a trajetória de um camisa 9 inesquecível.

 

 

 

CAPÍTULO 1: O ESTREANTE

 

 O Fluminense se preparava para receber o Palmeiras pela 1ª rodada do Campeonato Brasileiro de 1991. Nascido em Ponte do Itabapoana - ES, Ézio havia chegado ao clube sem tanta badalação, mas como esperança de gols após passagens por Bangu, Olaria, Americano e Portuguesa.

 

 A grande expectativa de torcida e imprensa girava mesmo era em torno da contratação de Bobô. O meia-atacante com passagem pela seleção brasileira era destaque em todos os jornais da época e, inclusive, deu uma volta olímpica sob aplausos dos torcedores nas Laranjeiras antes mesmo de a bola rolar.

 

 Com apenas 12 minutos de jogo diante do Palmeiras, a nova dupla mostrou seus cartões de visitas. Passe de Bobô pela esquerda, carrinho de Ézio e bola na rede. Marcelo Gomes, Julinho e o próprio Bobô, de pênalti, completaram a vitória do Flu por 4 a 2.

 

Bobô foi quem teve maior destaque das manchetes dos jornais no dia seguinte: "Fluminense encontra seu ídolo", estampou "O Globo". O baiano ficou dois anos nas Laranjeiras, mas não chegou a virar ídolo do clube. Privilégio que coube a Ézio.

 

 

CAPÍTULO 2: O ARTILHEIRO

 

Ézio rapidamente mostrou sua veia goleadora com a camisa do Fluminense. Ao marcar 15 gols no Carioca de 1992, quebrou um jejum de 12 anos do clube sem artilheiros em competições oficiais. O último havia sido Cláudio Adão no estadual de 1980.

 

 

Ao todo, o atacante marcou 119 gols em 236 jogos com a camisa do Fluminense entre 1991 e 1995, média de um gol a cada dois jogos. Por anos, ele figurou no top 10 dos maiores goleadores da história do clube, até ser ultrapassado por Magno Alves e Fred neste século. Atualmente, ocupa a 11ª posição do ranking em jogos gerais, a oitava colocação em jogos oficiais (102 gols) e é o quarto em Brasileiros (33 gols).

 

 Sua história também está entrelaçada com as Laranjeiras. Com 44 gols, é o artilheiro do estádio na “era moderna”, pós-construção do Maracanã, e oitavo maior goleador do local em todos os tempos.

 

 Maiores artilheiros da história do Fluminense

 

 Waldo - 319 gols em 403 jogos (1954-1961)

 

Orlando Pingo de Ouro - 184 gols em 310 jogos (1945-1953)

 

Fred - 176 gols em 312 jogos (2009-2021)

 

Hércules - 165 gols em 176 jogos (1935-1942)

 

Telê - 164 gols em 559 jogos (1950-1961)

 

Welfare - 161 gols em 165 jogos (1913-1924)

 

Russo - 149 gols em 248 jogos (1933-1944)

 

Preguinho - 128 gols em 174 jogos (1925-1938)

 

Washington - 124 gols em 305 jogos (1983-1989)

 

Magno Alves - 124 gols em 329 jogos (1998-2016)

 

Ézio - 118 gols em 236 jogos (1991-1995)

 

Fonte: Flu-Memória

 

 

CAPÍTULO 3: OS GOLAÇOS

 

Ézio era o típico camisa 9 goleador, o homem da finalização, do último lance. Marcou grande parte de seus gols dentro da área, seja com o pé ou a cabeça. Mesmo sem grande quantidade de lances refinados em seu repertório, Ézio fez seus golaços. Toques por cobertura, cortes secos que deixaram adversários na saudade... 

 

 

CAPÍTULO 4: O CARRASCO

 Uma fama em especial ajudou a fazer Ézio cair nas graças da torcida. A maior vítima do centroavante foi justamente o Flamengo. Ao todo, foram 13 gols sobre o rival, o que lhe rendeu a alcunha de "Carrasco". De todos os jogadores da história do Flu, apenas Hércules, com 15, fez mais gols que Ézio sobre o Fla "Era um goleador, o homem dos Fla-Flus. O Ézio tinha um coração gigante. Um cara extremamente educado, companheiro, um grande pai de família. Um cara espetacular. O apelido dele fala por si só: Super Ézio", conta Branco, ex-companheiro e adversário.

 

 

CAPÍTULO 5: O ÍDOLO

 

Bandeirão de Ézio 

Ézio chegou ao Fluminense em um período de vacas magras. Em dificuldades financeiras, o clube vivia fase difícil: times pouco competitivos, jejum de títulos e

carência de ídolos. Com carisma, gols em grandes jogos e atuações decisivas, o camisa 9 preencheu a lacuna no coração de uma geração de tricolores.

 

 

CAPÍTULO 6: O SUPER-HERÓI

 

O apelido de Super Ézio, que eternizou o atacante, ganhou vida na voz de Januário de Oliveira, mestre da locução esportiva brasileira e também torcedor tricolor.

 "O time do Fluminense no início da década de 90 era muito ruim. E o Ézio era o único elemento que conseguia se destacar, fazia gols... Uma vez, um amigo me falou que, nesse time, "para fazer gol tinha que ser herói. Herói não, super-herói". E aquilo ficou na minha cabeça. No fim de semana, jogaram Botafogo e Fluminense. O Ézio fez os dois gols do Flu. E na hora de narrar o gol, eu falei "gol de Super Ézio, o super-herói tricolor", contou Januário em uma reportagem.

 

 

CAPÍTULO 7: O CAMPEÃO

 

Como já citado, Ézio chegou ao Fluminense em um período difícil do clube, que não ganhava um título de peso desde o Carioca de 1985 e possuía uma equipe considerada fraca diante dos principais rivais. No ano anterior à chegada do jogador, o Tricolor até havia vencido a Taça Rio, mas acabou caindo na semifinal do estadual. Em seu primeiro ano pelo Flu, Ézio ajudou o time a conquistar a Taça Guanabara de 1991. O sonho do título carioca, porém, parou no Fla na final. Em 1992, o Flu perdeu a Copa do Brasil em uma final polêmica para o Inter. Em 1993, o atacante novamente

levantou a Taça Guanabara. Desta vez, uma conquista com sabor especial. Fez o gol na vitória sobre o Volta Redonda por 1 a 0, que deu ao Fluminense o último título conquistado nas Laranjeiras até hoje.

 "Um momento que eu gosto de relembrar é a conquista da Taça Guanabara de 1993, nas Laranjeiras. Um cenário maravilhoso, festa da torcida inesquecível, estádio lotado. Vencemos o Volta Redonda por 1 a 0, gol do Ézio. Ele, como matador, finalizador incrível, conseguiu fazer o gol que nos deu a vitória" , diz "Tanque" Wagner, ex-companheiro de Ézio.

 Faltava um título de peso para concluir a jornada do super-herói. E quis o destino que fosse justamente na última partida de Ézio com a camisa do Fluminense. Em 1995, o atacante já não era o mesmo dos anos anteriores devido a problemas de lesão. Não tinha mais o status de titular absoluto e viria a se transferir para o Atlético-MG ao fim do Carioca.

 O papel de protagonista era de Renato Gaúcho. Mesmo assim, Ézio foi importante na conquista do título estadual ao marcar seis gols. No épico Fla-Flu do título, ele começou no banco e entrou no segundo tempo. Não fez o gol da conquista, mas deu sua contribuição ao participar do início da jogada do histórico gol de barriga. E, acima de tudo, foi campeão. Era o que faltava para coroar sua marcante passagem pelo Tricolor. Os deuses do futebol fizeram justiça.

 

 

" Era um cara fantástico. Artilheiro ninguém esquece. Super Ézio. Um cara que jamais vai sair da história. É lembrado sempre pela parte da positiva. Isso aí é muito legal. Sem dúvida que a gente sente muita falta de um cara como esse", afirma Ailton, companheiro de Ézio no título de 1995.

 

 

CAPÍTULO 8: O LEGADO

 

 Ézio partiu no dia 9 de novembro de 2011, após lutar contra um câncer de pâncreas. Deixou a esposa Isabela Nogueira, com quem foi casado por 20 anos, e os filhos, um casal de gêmeos, Ézio e Mabel Nogueira, que tinham apenas 4 anos na época.

  Hoje, com 13 anos, os filhos do ídolo têm a dimensão da importância do pai na história do Fluminense. Ézio, o filho, herdou também a veia futebolística. Não como centroavante, mas como lateral-direito. Chegou a jogar pelo Tricolor. Parou de jogar na pandemia, mas estuda a possibilidade de voltar.

  Em comum na família, o amor ao Fluminense: "Não tem como não ser, né?", brinca Isabela.

 

Ézio e família - Arquivo pessoal

 

 

CAPÍTULO 9: A CAMISA 9

 

 Se hoje a camisa 9 do Fluminense é considerada pesada, muito se deve a Ézio. Ao longo de seus cinco anos no clube, o centroavante honrou o número que foi utilizado por ídolos anteriores como Waldo, Washington (casal 20), Welfare, Flávio... E deu continuidade à mística artilheira do número, que hoje veste ninguém menos que Fred, um dos maiores ídolos da história tricolor.

  Fred que, aliás, já teve a honra de vestir a 9 com a inscrição “Super Ézio” em duas ocasiões. Uma na vitória do Fluminense sobre o Corinthans, em 11 de setembro de 2011, para dar forças a Ézio, que já lutava contra o câncer. Outra, no dia 12 de novembro de 2011, três dias após o falecimento do ex-atacante, em uma partida contra o América-MG. Fred balançou as redes no primeiro jogo. E ao longo dos anos, deu continuidade ao legado do antecessor, fazendo a alegria da torcida tricolor e também marcando uma geração, assim como Ézio.

 Quase 10 anos depois da partida de Ézio, seu legado está eternizado. Seja nos filhos, seja nos gols de Fred, seja na alegria da torcida tricolor. Afinal, super-heróis nunca morrem.

 

 

 

FONTE: https://www.jornaltemponews.com.br/2021/02/ezio-o-super-heroi-tricolor.html

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