Entre o norte do Rio de Janeiro e o Sul do Espírito Santo, o trajeto entre Santo Eduardo, Apiacá e a Ponte do Itabapoana é marcado por paisagens de mata atlântica fragmentada — e, infelizmente, também por registros alarmantes da presença da onça-parda, ou suçuarana, nesta importante zona de divisa interestadua
Em meados de dezembro de 2019, uma onça-parda foi atropelada na BR-101, km 117 Norte, no distrito de Serrinha, em Campos dos Goytacazes (RJ). A concessionária Arteris Fluminense recolheu o animal e encaminhou-o ao Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (NUPEM/UFRJ), atualmente o Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade, para estudos científicos.
Dias depois, o vídeo de um outro atropelamento ganhou circulação nas redes sociais, relatando uma onça-parda ferida na RJ-158, perto de São Fidélis (RJ) — ainda que não tenha sido possível confirmar oficialmente se se trata do mesmo caso ou de outra ocorrência na região da divisa.
Outro caso de atropelamento de onça parda é mencionado por moradores da Região de Ponte do Itabapoana, o fato teria acontecido na estrada que liga Ponte do Itabapoana à Apiacá.
Registro esporádico, padrão preocupante
No Espírito Santo, um episódio mais recente (setembro de 2024) relata o atropelamento fatal de um macho jovem de onça-parda por uma van na rodovia próxima à UTG em Anchieta (Sul do ES) — um local distante da divisa com o RJ, mas indicativo da circulação da espécie em rodovias perigosas .
Em outra localidade fluminense, a rodovia RJ-127 (Paracambi, RJ) acumulou pelo menos três atropelamentos de onças-pardas ao longo de seis anos (2016, 2021 e 2022), todos no mesmo trecho. Esse fenômeno reforça a vulnerabilidade do animal em trechos rodoviários frequentados por viagens e expansão urbana .

O papel ecológico e a crise de conservação
A onça-parda ocupa o topo da cadeia trófica e atua como reguladora de populações de presas — participando de um delicado equilíbrio ecológico. Apesar de seu parentesco com a mais conhecida onça-pintada, ela tem se adaptado a fragmentos urbanos, áreas de pasto e faixas de reflorestamento .
No entanto, a fragmentação do habitat, atropelamentos e a presença humana crescente ameaçam seriamente sua sobrevivência — sobretudo em regiões como a Mata Atlântica, onde sua circulação foi considerada extinta por décadas até registros recentes via armadilhas fotográficas em áreas protegidas como o Revimar (Maricá/RJ) .
O que muda entre RJ e ES?
Embora ainda não existam registros jornalísticos claros de atropelamentos entre Santo Eduardo, Apiacá e Ponte do Itabapoana, os incidentes em Campos dos Goytacazes (RJ) e Anchieta (ES) indicam uma rota possível de expansão ou dispersão dessa espécie pelos remanescentes florestais da faixa de divisa — um território que combina trilhas de fauna, rodovias e zonas agrícolas.
Caminhos possíveis para reduzir os atropelamentos
Corredores ecológicos e passagens de fauna: essenciais para permitir a travessia segura entre fragmentos florestais isolados (como os planos nas rodovias RJ-127 ou RJ-155) .
Redutores de velocidade e sinalização em áreas com maior ocorrência de fauna.
Monitoramento contínuo, com uso de armadilhas fotográficas, para mapear rotas de circulação e possíveis pontos críticos .
Educação ambiental e registro comunitário, incentivando moradores, motoristas e usuários de redes sociais a comunicarem avistamentos ou atropelamentos — como foi o caso do vídeo na RJ-158.
Conclusão
A presença da onça-parda nos arredores da divisa RJ–ES, mesmo que pouco documentada formalmente, revela um cenário urgente de conservação. O atropelamento em Serrinha (BR-101) e Anchieta indica que a espécie ainda circula nesses remanescentes florestais — mas também que continua vulnerável à expansão humana.
A criação de infraestruturas sensíveis à fauna, combinada com políticas de monitoramento e educação, pode representar uma esperança para que a onça-parda continue a cumprir seu papel vital nos ecossistemas locais — ao mesmo tempo em que coexistimos de modo mais harmonioso.