Uma das maiores unidades da rede municipal de saúde de Campos, com mais de 1.300 funcionários e 2.500 atendimentos por mês, somente na emergência, o Hospital Geral de Guarus (HGG) é alvo constante de reclamações há anos por causa de problemas estruturais. Recentemente, a Prefeitura de Campos anunciou que o hospital será reformado. Na última sexta-feira (19), foi criada uma comissão para viabilizar a reforma e minimizar as consequências que ela trará. Mas ainda não há data definida para o início das obras e a situação continua precária. Enquanto o governo municipal busca alternativas para viabilizar a reforma, quem circula pelo prédio encontra com facilidade os problemas.
Várias partes do teto cederam e os buracos foram cobertos por lonas. Um desses incidentes deixou feridas uma funcionária e uma paciente que estava internada. Em muitas salas, o mofo no teto e nas paredes já é comum. Quando chove, o fluxo de água que invade o hospital é outro problema. “A gente sabia que tudo estava muito ruim no HGG, mas a realidade não se compara a nada que imaginávamos. Vai ser preciso reformar basicamente todo o hospital, em um processo difícil, porque envolve pacientes e grande fluxo de pessoas, ainda mais nessa pandemia da Covid. Nós queremos devolver à população de Guarus e de toda Campos um HGG não só reformado, mas ampliado, modernizado, com atendimento digno”, explicou o vice-prefeito de Campos, Frederico Paes.
Por enquanto, a Prefeitura de Campos não informou o custo estimado e uma data exata para o início das obras. Atualmente é feito um levantamento para identificar as condições, as avarias e as necessidades de reforma, para definir um projeto executivo e montar planilha de custos. (LEIA ABAIXO)
“O prefeito Wladimir Garotinho está buscando e conseguindo parcerias, convênios e recursos para a recuperação do HGG. O problema é que ele precisa ser quase todo reconstruído. E não vamos tomar nenhuma decisão sem planejamento. Formamos três comissões especiais e a prefeitura só vai iniciar qualquer ação nesta direção quando os estudos dessas equipes forem concluídos. Esses estudos envolvem a criação de uma Rede de Atendimento a Guarus em suporte ao HGG quando as obras forem iniciadas, com hospitais contratualizados e também com as nossas unidades municipais”, informou Frederico.
Um funcionário que trabalha no hospital relatou as dificuldades. “É muito ruim ver o hospital assim. O sentimento é de tristeza, de impotência. A gente está lidando com vidas e a gente quer um lugar melhor para poder trabalhar. Quando chove aqui dentro, isso é visto como algo muito ruim. Mas, para gente, de uma certa forma é até um alívio, porque o calor aqui é insuportável, mais um problema. O teto do HGG funciona como uma estufa. A gente vai fazer um procedimento no braço do paciente, por exemplo, e o braço está molhado de suor. Imagina um parente seu no corredor nessa situação…”, desabafou.
Sindicato dos Médicos de Campos preocupado com fechamento
As dificuldades enfrentadas pelos profissionais que atuam no HGG preocupam o Sindicato dos Médicos de Campos (Simec). É o que explica a presidente do órgão, Maria das Graças Ferreira Rangel. “A realidade do médico lotado no HGG é de sofrimento e de muita luta para o exercício da profissão. A infraestrutura da unidade hospitalar está deteriorada há anos, tornando-se assim inadequada para o desempenho da medicina de qualidade”, pontuou.
Ainda segundo a presidente, é fato que o HGG necessita parar para a execução da reforma estrutural completa, porém, o fechamento do hospital causa preocupação. “Mesmo que temporário, esse fechamento nos deixa apreensivos, haja vista a demanda de atendimentos médico-hospitalares que, em suma, é determinada pela numerosa parcela da população campista residente no distrito de Guarus. A preocupação do Simec é referente à assistência aos pacientes: Como serão assistidos? Para onde serão direcionados? Estes são alguns dos nossos questionamentos”, pontuou.
Problema enfrentado por muitas gestões
Há anos, os problemas na estrutura física do HGG são noticiados. Infiltrações em paredes e nos telhados e até mesmo desabamento do forro do teto foram e continuam sendo vistos com frequência no hospital. Logo no início de janeiro deste ano, assim que assumiu a Prefeitura de Campos, o prefeito Wladimir Garotinho esteve no local e constatou o abandono. Porém, o mesmo ato já havia sido feito antes pelo ex-prefeito Rafael Diniz, nos primeiros dias à frente da prefeitura, em janeiro de 2017. Na ocasião, Diniz mostrou os problemas herdados da então prefeita Rosinha Garotinho, mãe de Wladimir. Nas duas situações – tanto no início do governo de Wladimir, quanto no de Rafael – várias imagens foram feitas e divulgadas para mostrar os problemas encontrados.
As dificuldades do HGG são um desafio não só para a atual gestão, mas, principalmente, para quem trabalha no local. “Atuo aqui há muitos anos e hoje em dia a gente vê a tristeza de muitos profissionais porque não era assim em 2007, 2006, bem antigamente. Hoje, a gente vê o hospital deteriorado, caindo aos pedaços. É uma obra antiga que não recebeu nenhuma melhoria. A tendência é que uma hora a estrutura desabe e já começou a cair”, explicou.
Mudança Polêmica
Entre os hospitais com os quais o Governo vem dialogando para receber parte da demanda do HGG, está a Beneficência Portuguesa de Campos. Porém, a direção da unidade afirma que ceder o espaço poderia causar suspensão de alguns serviços. Funcionários do hospital chegaram a fazer uma manifestação contra a transferência de
funcionários e pacientes para a unidade. Em entrevista recente ao Jornal Terceira Via, Renato Faria, diretor-geral do hospital filantrópico, afirmou que a Beneficência não tem condições de receber os pacientes. Para ceder espaço adicional ao Município, seria necessário descontinuar serviços e demitir funcionários. A reportagem tentou contato novamente com Farias, mas não conseguiu retorno.
Segundo o vice-prefeito de Campos, Frederico Paes, fechar a Beneficência não é uma possibilidade para a prefeitura. “É importante falar que em momento nenhum o governo falou em fechar a Beneficência Portuguesa. Pelo contrário, quando a reforma do HGG for iniciada, vamos usar os hospitais contratualizados para dar suporte à demanda de Guarus. Os hospitais contratualizados têm vida própria e gestão autônoma”, afirmou
Uma funcionária do HGG que não quis se identificar relatou desconforto dela e de outros funcionários diante da possibilidade de ir para outro local. “A gente entende que não dá para fazer reforma e continuar com os atendimentos, mas a gente se sente mal em saber que nós funcionários não estamos sendo vistos com bons olhos por outros locais onde talvez iremos trabalhar”, lamentou.
Criada comissão para elaborar soluções
Uma portaria da Prefeitura criou três comissões técnicas, na última sexta-feira (19), para levantamento de dados sobre a estrutura de funcionamento do HGG e possibilidade de convênio com a rede contratualizada de saúde. O documento também sugere que pacientes sejam transferidos para Unidades Básicas de Saúde ou Unidades Pré-Hospitalares que funcionem em regime 24h. As comissões terão que apresentar relatórios conclusivos em até 30 dias.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL