CORTES E DIMINUIÇÃO DE PRODUÇÃO DA PETROBRAS TÊM IMPACTO DIRETO EM CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ
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Publicado em 21/01/2021

As perspectivas e horizontes quanto ao mercado de petróleo e gás na região da Bacia de Campos para 2021 estão cercadas de dúvidas, mas também de expectativas. Especialmente, em Campos, um dos municípios mais prejudicados pela queda dos royalties e a redução de vagas de empregos, com impacto direto no comércio e na industria da cidade. De um lado, o atual governo e o setor privado exibem otimismo inflado com os investimentos e leilões de blocos a partir da quebra do monopólio que a Petrobras e a entrada das petroleiras estrangeiras no setor. De outro lado, há os que temem a mudança do perfil da empresa que viria prejudicar a região com a queda de investimentos e geração de empregos comprometida. Segundo a estatal, as ações e, sobretudo os cortes, são necessários para garantir a sustentabilidade da companhia.

— O desempenho atual no pré-sal brasileiro, que beira os 70% da produção nacional, merece o devido destaque. Contudo, não se pode esquecer que em um passado recente os campos do pós-sal offshore da Bacia de Campos já foram responsável por mais de 90% da produção nacional, sustentando por muitos anos as iniciativas tecnológicas para o sucesso em novas fronteiras exploratórias, principalmente para tornar viável a produção nesses campos de alta produtividade, enquadrados como ativos de classe mundial — disse o secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Ferreira.

Segundo o governo, o Promar buscará estender a vida útil de campos marítimos, de custos marginais do pós-sal, gerando assim empregos no setor e a ampliação e manutenção da indústria de bens e serviços.

Mas outras correntes de opinião pensam de forma contrária. Candidato a vereador pelo PT em Campos nas últimas eleições, o petroleiro José Maria Rangel, ex-coordenador da Fup (Frente única dos Petroleiros) aponta redução dos investimentos da empresa na Bacia de Campos.

— Desde 2015, a Petrobras cortou em 70% os investimentos da empresa na região e esta política tem impactos na redução dos empregos. Temos denunciado o abandono da Bacia de Campos que impactou em toda a cidade de Campos, com o aumento do desemprego, a perda de receita dos royalties, fechamento de muitos estabelecimentos comerciais e a redução de renda dos trabalhadores. A empresa está priorizando pagar dívida e juros ao invés de investir na produção — denunciou.

O economista Ranulfo Vidigal também tem um viés de pensamento que vai ao encontro na mesma direção de Rangel. Para ele, a Petrobras que ainda explora 80% do petróleo brasileiro, deixou de ser uma empresa direcionada para uma política de desenvolvimento nacional. “A Petrobras deixou de gerar caixa para fazer investimentos para ser uma empresa que gera caixa para pagar dividendos aos seus acionistas, inclusive com a venda de ativos. Mais voltada para o mercado e suas regras de competição com outras empresas”, analisou.

Ranulfo acredita que a entrada das grandes petroleiras internacionais no mercado após a quebra do mercado de petróleo e gás não irá contribuir para a geração de emprego e renda na região.

— É até possível uma melhora na recuperação do emprego na Bacia de Campos mas não acredito que seja apenas razoável, nada de extraordinário, porque a economia chinesa está demonstrando rápida capacidade de recuperação da Covid 19 empurrando esta demanda pelo petróleo e possibilitando sua cotação do barril entre os 55 e 60 dólares. Mas nada de extraordinário deve ocorrer em razão da baixa produtividade dos campos maduros, do baixo ritmo da atividade economia mundial e a cotação dos preços do petróleo — acrescentou.

O economista José Alves de Azevedo Neto celebra o montante de investimentos do Plano de Negócios da Petrobras para 2020-2024, de 75,7 bilhões de dólares, mas inclui ressalvas que podem prejudicar a região.

— O Plano de Negócios da Petrobras US$ 75,7 bilhões é algo muito significativo e interessante. Porém, neste ano de 2020, de janeiro a novembro, uma onda de demissões atingiu fortemente a indústria do petróleo na Bacia de Campos com a perda de 8,2 vagas de emprego. O desemprego em massa na cadeia do petróleo na região é fruto da reestruturação financeira da Petrobras — avaliou Alves.

O economista, contudo, avaliou que destes U$ 75,7 bilhões a serem investidos nestes quatro anos, a maior parte será direcionada para o pré-sal que fica concentrada na Bacia de Santos. “Porque os campos do pré-sal têm maior lucratividade, enquanto os poços da Bacia de Campos já produzem há 40 anos, hoje não tem a mesma produtividade de antes.

José Alves Neto questiona a quebra do monopólio da Petrobras e a entrada de grandes petroleiras estrangeiras no mercado. “Vamos aguardar os resultados destas gigantes internacionais do petróleo que entraram mercado. Elas trabalham com muita tecnologia e alta produtividade, e isso implica em menos investimentos em mão-de-obra e recursos humanos. Vamos aguardar como essas grandes petroleiras irão investir nestes poços maduros da Bacia de Campos”, analisou.

Campos irá receber a médio e longo prazo royalties e participações especiais do pré-sal, pondera o economista. “Há reservas do pré-sal na Bacia de Campos. Então, Campos vai receber royalties do pré-sal. A questão é saber o quantitativo financeiro que o município irá receber e quando estes recursos entrarão nos cofres da prefeitura”.

Outro aspecto abordado por José Alves Neto na abertura do setor de petróleo e gás pelo governo brasileiro é a segurança nacional. “Abrir mão de um setor estratégico da economia brasileira como o pré-sal é perigoso porque neste caso estaremos abrindo mão de uma área importante para qualquer país que é a sua segurança nacional”, finalizou.  

Outro especialista, o professor Mauro Osório, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enfatiza que o Estado do Rio de Janeiro, incluindo a Bacia de Campos, como principal estado produtor de petróleo e gás do país, extrai poucos dividendos da cadeia produtiva da indústria energética. “Estão aqui 85% das reservas de petróleo do Brasil, mas somos apenas 19% dos fornecedores e prestadores de serviços da Petrobras, que tem 70% destes contratos no exterior”, avalia Mauro, hoje na assessoria fiscal da Assembléia Legislativa (Alerj).

O Estado do Rio, avalia Mauro Osório, concentra atividades apenas primárias da cadeia produtiva do petróleo como a extração e atividades de apoio. “Mas quando se olha para o refino e a produção de derivados, a participação da nossa cadeia produtiva é de apenas 23,7% da indústria nacional. Avançar nessa segunda etapa seria medida importante para incrementar a geração de empregos e renda. O setor tem capacidade de gerar altos salários: enquanto trabalhadores da indústria fluminense ganham, em média, R$ 4.606,26; no conjunto de atividades relacionadas com o sistema produtivo de petróleo e gás, o salário médio chegava a R$ R$ 9.280,31”, concluiu.

FONTE: CAMPOS 24 HORAS

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