O líder supremo do movimento Talibã, Hibatullah Akhundzada, apareceu em público nesta sexta-feira (1º), em Cabul, onde participou em uma assembleia de autoridades religiosas. No evento convocado pelo regime para consolidar o seu poder, ele pediu ao mundo que pare de "interferir" nos assuntos do Afeganistão. Segundo ele, a aplicação da lei islâmica é a chave para o sucesso do país.
Akhundzada, que não costuma aparecer, foi recebido com aplausos e aos gritos de "longa vida ao Emirado Islâmico do Afeganistão", nome oficial do regime. Mais de 3.000 religiosos e líderes tribais estão reunidos desde quinta-feira (30), na capital afegã, para um conselho de três dias.
A assembleia, a mais importante desde que o Talibã retornou ao poder, acontece uma semana depois que um terremoto deixou mais de 1.000 mortos e dezenas de milhares de desabrigados no leste do país.
A imprensa não está autorizada a acompanhar o evento, mas alguns discursos foram transmitidos pela rádio pública, a maioria com pedidos de unidade e apoio ao regime. "Eles dizem 'por que não fazem isto, por que não fazem aquilo?' Por que o mundo interfere em nosso trabalho? Não aceitaremos ordens de ninguém. Apenas nos curvaremos a Alá Todo-Poderoso", disse Akhundzada em um discurso de uma hora transmitido pela mídia estatal.
O líder ainda disse que o sucesso do regime dependerá de sua capacidade de romper com "a corrupção, o egoísmo, a tirania, o nacionalismo e o nepotismo", características, segundo ele, dos governos que se sucederam nas últimas duas décadas no Afeganistão.
Akhundzada disse aos participantes do conselho que os países não muçulmanos nunca aceitarão um Estado genuinamente islâmico e pediu que estejam preparados para enfrentar muitas dificuldades. "Não pode haver reconciliação entre o islã e os 'kafirs' (infiéis). Nem no passado, nem agora", afirmou.
Atentado
Apesar de fortes medidas de segurança ao redor da assembleia, na quinta-feira dois homens armados conseguiram se aproximar da Universidade Politécnica de Cabul, local do encontro, e foram mortos. Fontes talibãs afirmaram que eles abriram fogo a partir do telhado de um imóvel próximo, mas foram "eliminados rapidamente".
Há vários dias a imprensa local especulava sobre a possível participação de Akhundzada na reunião. O líder do Talibã não era filmado ou fotografado em público desde a chegada do movimento fundamentalista ao poder, em agosto do ano passado. Apenas mensagens de áudio dele haviam sido divulgadas, sem terem sido verificadas por fontes independentes.
Apesar da discrição, Akhundaza, que de acordo com algumas estimativas tem mais de 70 anos, mantém um controle rígido sobre o movimento Talibã e ostenta o título de "Comandante dos Fiéis".
Mulheres foram vetadas na reunião
A participação das mulheres foi vetada na assembleia. Os talibãs consideraram que não era necessário porque elas seriam representadas pelos homens de suas famílias. O movimento Talibã divulgou poucos detalhes sobre a assembleia tradicional, conhecida como "jirga", na qual as divergências devem ser resolvidas por consenso
Uma fonte talibã, no início da semana, que os participantes do conselho teriam permissão para criticar o governo e que temas delicados, como a educação das mulheres, objeto de debate inclusive dentro do movimento, estariam na agenda. Desde que os talibãs assumiram o poder, o Afeganistão segue uma interpretação extremamente rigorosa da lei islâmica e que marcou o seu primeiro período no poder, entre 1996 e 2001.
Eles restringiram os direitos das mulheres, proibiram música não religiosa, a representação de rostos humanos em anúncios publicitários e a exibição de filmes ou séries em que as mulheres aparecem sem véu. O movimento ainda pediu aos homens que usassem roupas tradicionais e deixassem a barba crescer.
"A obediência é o princípio mais importante do sistema", declarou Habibullah Haqqani, que preside o conselho do Talibã. "Devemos obedecer a todos os nossos dirigentes, em todos os assuntos", acrescentou.
No encontro desta sexta-feira, um influente imã defendeu que qualquer pessoa que tente derrubar o regime deve morrer. "Esta bandeira (Talibã) não foi hasteada facilmente, e não será retirada facilmente", disse Mujib ur Rahman Ansari, da mesquita de Gazargah, em Herat, oeste do país. "Todos os eruditos religiosos do Afeganistão devem concordar... que qualquer um que cometa um ato contra o nosso governo islâmico deve ser decapitado e eliminado", concluiu.
FONTE: MSN.COM