Lewis Hamilton não escondeu o desconforto por estar na Arábia Saudita para desempenhar sua profissão, de piloto de Fórmula 1, num fim de semana decisivo para os rumos do campeonato e para as suas pretensões de buscar o oitavo título mundial. O país, que tem aportado muito dinheiro no esporte nos últimos tempos em razão do patrocínio da petrolífera Aramco, tem leis opressoras e que criminalizam a comunidade LGBTQIA+. A homossexualidade é punida com flagelação, chicotadas, prisão e até com execução.
Ciente da sua potência e do impacto que alcança com suas declarações e posicionamentos, Hamilton bradou contra o regime totalitário e extremista saudita e criticou a Fórmula 1 ao clamar por mensagens de conscientização.
No ano passado, a própria Fórmula 1 lançou uma campanha chamada We Race As One (Corremos como um só, em tradução livre) e tinha como premissa defender a igualdade e a diversidade, num discurso contra o racismo e qualquer tipo de discriminação. Contraditória, a categoria não apenas mantém sua presença em países opressores como se expandiu ao levar etapas para o Catar e a Arábia Saudita.
Hamilton, como profissional do esporte, sente que não tem escolha, ainda mais neste momento decisivo da temporada, a não ser viajar a um país como a Arábia Saudita e desempenhar sua profissão. Mas trata-se de uma situação muito difícil para quem sempre se posicionou contra tudo o que o governo saudita prega.
“Como disse na última corrida, senti que o esporte e que nós temos o dever de tentar ajudar a aumentar a conscientização para certas questões que vimos, particularmente os direitos humanos nos países para onde vamos”, afirmou o heptacampeão do mundo em entrevista coletiva nesta quinta-feira em Jedá, palco do GP da Arábia Saudita neste fim de semana.
“Com o maior respeito com todos os que estão aqui. Até agora recebi uma recepção calorosa de todos. Mas não posso fingir ser o mais informado ou ter a compreensão mais profunda de que alguém que cresceu na comunidade aqui é fortemente afetada por certas regras e pelo regime”, criticou Lewis, que nas redes sociais cobrou “igualdade para todos”.
Quando perguntado se se sentia bem no país, Hamilton não se furtou em responder. “Se eu me sinto confortável aqui? Não diria que sim, mas não é minha escolha estar aqui, o esporte optou por estar aqui. Seja certo ou errado, enquanto estivermos aqui, acho importante tentarmos aumentar a conscientização”.
Ao mencionar a inacreditável lei anti-LGBT, Hamilton criticou novamente a opressão que a comunidade gay vive na Arábia Saudita. “Se alguém quiser ler o que é a lei para a comunidade LGBTQIA+, é muito assustador. Há mudanças que precisam ser feitas”.
O país tem gasto milhões de dólares para tentar limpar a imagem e atrair diversos eventos esportivos nos últimos anos. Só no esporte a motor, a Arábia Saudita já recebe a Fórmula E e o Dakar, além da F1 a partir deste ano. Trata-se do que se chama de sportswashing, ou de maquiar a imagem do país e tentar passar a impressão de que o regime é um pouco mais aberto do que realmente é.
Hamilton citou o banimento de outra lei opressora do país, que proibia mulheres de dirigir, e questionou a validade do que é colocado como uma nova liberdade. “Essas mudanças, por exemplo, como os direitos das mulheres de poder dirigir, em 2018. Como elas são policiadas? Elas estão realmente em vigor? Por que algumas mulheres ainda estão na prisão por dirigir há muitos, muitos anos?”.
“Há muitas mudanças que precisam acontecer e acho que nosso esporte precisa fazer mais”, cobrou o maior vencedor da história da Fórmula 1.
O GP da Arábia Saudita marca a 21ª e penúltima etapa da temporada 2021 da Fórmula 1 e está marcado para 14h30 (de Brasília, GMT-3) deste domingo. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.
FONTE: MSN.COM